Pedagogia do Esporte

 
O papel dos jogos no treinamento da equipe
Jogos estão cada vez mais presentes nos treinamentos, mas para que eles servem? Para treinar a parte técnica em ambiente de jogo? Para treinar a parte física? Como moda, necessidade?
 
 
Bruno Baquete*
O jogo de futebol acontece em um campo de dimensões que variam de 45–90 m de largura e 90–120 m de comprimento com 22 jogadores ocupando esse espaço. A partir do parâmetro inicial podemos supor que os jogos reduzidos acontecerão em um campo menor e com menos jogadores.
Então, os jogos reduzidos nada mais são do que jogos com dimensões menores e com menos jogadores que o jogo formal. Porém, antes de tomarem suas conclusões sobre esse tipo de atividade, já afirmo que as coisas não são tão simples assim, pelo contrário, são bem complexas.
Os jogos, não mais os reduzidos, mas os jogos para o desenvolvimento do jogar da equipe, devem ser concebidos tendo o modelo de jogo da equipe como o norte e respeitar a especificidade do futebol. Definido o modelo de jogo da equipe, os conteúdos podem ser distribuídos ao longo do processo de treino. Esse processo deve ter início no primeiro dia de trabalho e perdurar por toda a temporada.
Nesse processo, todas as atividades têm ligação entre si e o grau de complexidade das mesmas aumentará conforme a evolução do jogar da equipe. Com isso não haverá um pico de performance de jogo, mas sim uma evolução gradual do jogar da equipe.
Se os jogos não obedecerem uma sequência processual, serão apenas jogos pelos jogos em que cada um tem o fim em si mesmo. Claro que os jogadores evoluirão em determinados aspectos dentro desses jogos sem sistematização, mas o jogar da equipe não evoluirá de forma progressiva ao longo da temporada. Cada jogo deve fazer parte de um sistema maior e o fim é o jogar da equipe.


 
Além disso os jogos devem ser fractais do jogo formal, ou seja, devem contemplar todas as características do jogo como um todo. Um exemplo de fractal é o DNA. O DNA é um fractal do indivíduo, pois contém todas as informações do mesmo e é específico de cada um.
“O treinamento pelo jogo e para o jogar, como fractal de um processo de desenvolvimento da performance, deve garantir que todo sistema fisiológico, bioquímico, cognitivo, etc., humano, aprenda a reagir de maneira mais eficaz àquela situação que é a sua de trabalho, de competição: o próprio jogo” (Leitão, 2009).
Nesses jogos fractais, tudo o que acontece no jogo formal está acontecendo. Porém, precisamos de regras específicas e de intervenções pontuais do treinador para potencializar determinados comportamentos dos jogadores dentro dessas atividades. Por exemplo, em uma determinada atividade o conteúdo trabalhado será a recuperação da posse de bola. Para isso, é preciso criar regras para que seja vantajoso a recuperação da posse de bola, e as intervenções devem ter o foco nesse comportamento específico da equipe.
Uma atividade hipotética em forma de jogo com esse objetivo traz consigo todos os elementos do jogo (elementos técnicos como os passes, táticos como movimentações, ocupação de espaço, físicos como a força específica manifestada nas travagens e mudanças de direção, etc.), mas a equipe desenvolverá prioritariamente as questões relacionadas à recuperação da posse de bola.
Conceber o treino dessa forma não é nada simples, mas no futebol o tempo é escasso e precisamos otimizá-lo e treinar o jogar da equipe de uma forma complexa e não fragmentada. Como afirma Leonardo (2008), onde se treina o físico para “aguentar” o jogo, o técnico para “executar” o jogo, e o tático para “movimentar-se” no jogo, deve-se treinar o jogo que se quer jogar e assim o jogador estará condicionado para jogar o jogo.


Fonte: http://www.cidadedofutebol.com.br/2011/05/1,15025,O+PAPEL+DOS+JOGOS+NO+TREINAMENTO+DA+EQUIPE+.aspx?p=1

Bibliografia

LEITÃO, R. A. O Jogo de Futebol: Investigação de sua estrutura, de seus modelos e da inteligência de jogo, do ponto de vista da complexidade. Tese (Doutorado)-Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.

LEONARDO, L. O fim da preparação física?. 2008. Disponível http://www.universidadedofutebol.com.br/ Acesso em: 28 de jan. de 2011.

*Bruno Baquete é Bacharel em Educação Física pela Unicamp e membro do Ciefutwww.futebolintegrado.blogspot.com




Desenvolvimento da Tomada de Decisão nos Jogos Desportivos Coletivo: O Futsal


O estudo dos esportes em seu amplo domínio mostra a multiplicidade de formas de jogar com regras próprias, conceitos inerentes a cada uma delas e características que as assemelham e as distinguem em grupos diversos.
Os Jogos Desportivos Coletivos (JDC) caracterizam-se segundo Teodorescu (2003) citado por Hermes Ferreira Balbino por:

·         Existência de um objeto de jogo (bola, bola oval, disco do hóquei sobre o gelo);
·         Disputa complexa, individual e coletiva, correlacionadas;
·         Regras de jogo unitárias e obrigatórias;
·         Presença obrigatória de arbitragem;
·         Limitação da duração de jogo, em tempo ou em objetivos definidos, como pontos ou sets;
·         Existência de técnicas e táticas específicas;
·         Caráter organizado de competições;
·         Organização da atividade nacional e internacional.
·         Existência de teorias e práticas gerais e específicas, no que dizem respeito à técnica, tática, treinamento e suas metodologias;
·         Existência do espetáculo desportivos.

Assim, como o autor supracitado concebe os JDC há clareza sobre a relação direta e interligada entre aspectos técnicos de cada modalidade (o como fazer) e as esferas táticas de cada momento acontecimental em espaço de tempo curto como o futsal ( o que fazer, de forma consciente). O futsal, segundo professores da Universidade do Porto, Julio garganta e Rui Amaral “parece afastar-se cada vez mais da modalidade que lhe deu origem – o Futebol – conquistando espaço próprio do universo dos jogos desportivos coletivos (JDC).”
A caracterização dos JDC como atividade de complexa de atuação por parte dos atletas e suas equipes in momentum do jogo, onde há a necessidade de resolver os problemas do mesmo acarreta em solicitação de capacidade do indivíduo em recepcionar de forma excelente às informações advindas do ambiente de jogo (leitura de jogo), elaborar planos mentais de solução e executar de forma eficiente, mesmo sabendo que as informações são aleatórias, imprevisíveis e mutantes. Garganta, segundo Scaglia,  cita que

Por essa razão, as situações que surgem no contexto dos JD devem ser entendidas como encadeamentos de unidades de ação que possuem uma natureza complexa, decorrente não apenas do número de variáveis em jogo, mas também da imprevisibilidade e aleatoriedade das situações que se apresentam aos jogadores.

As equipes de futsal assim como de outros desportos coletivos (voleibol, futebol americano, handebol, basquetebol e outros) apresentam Modelos de Jogo (MJ) definidos por seus treinadores de acordo com princípios norteadores do mesmo e sub-princípios os quais fundamentam e dão alicerce coletivo aos atletas. Portanto vê-se uma estrutura de jogo previsível. No entanto, o “caos consciente”, inerente as ações individuais dos atletas, concede ao jogo uma esfera de imprevisibilidade ao mesmo, o qual o atleta deverá atuar de forma inteligente a esta variabilidade de ações existentes para poder ter sucesso ou vantagem nas mesmas. Neste momento as capacidades cognitivas dos atletas, desenvolvidas em treinamento, serão requisitadas tais como modelo de Tomada de Decisão de  Greco adaptado.


Fig: Modelo de Tomada de Decisão Tática em esportes coletivos adaptado de Greco
Fonte: GRECO, 1999, p.126, apud SANTANA, 2008, p

Referências:

BALBINO, Hermes Ferreira. Pedagogia do Treinamento: métodos, procedimentos pedagógicos e as múltiplas competeências do técnico nos jogos desportivos coletivos. Campinas: 2005.

GARAGANTA, Julio; AMARAL, Rui. A modelação do jogo em Futsal. Análise seqüencial do 1 x 1 no processo ofensivo. Universidade do Porto. Faculdade de Desporto. Porto.

SANTANA, Wilton Carlos de. A visão estratégico-tática de técnicos campeões da Liga Nacional de Futsal. Campinas: 2008, p. 132.